Mobilidade urbana do geronte

Natal, cidade gerida sob a égide do conceito Verde, de compromisso ambiental, é um fracasso sob o ponto de vista da mobilidade dos idosos! Cidade de clima privilegiado, não dá aos seus cidadãos o direito ao desfrute!  

Recentemente consultado sobre até que idade seria lícito o idoso dirigir automóveis, resolvi aprofundar pesquisas e entrevistas com pacientes, sobre suas dificuldades de locomoção e acessibilidade!

Engarrafamentos, dificuldades de estacionamento, acessibilidade, a falta de respeito e preconceito aos mais idosos ao volante, tem sido queixas freqüentes dos idosos condutores! 

Lembro sempre que não há idade definida para o idoso parar de conduzir auto motivos, impera como sempre o bom senso! Quanto menor o grau de comprometimento da saude do idoso, maior a possibilidade dele se manter na ativa!

O uso de motocicleta é raro mas existe, porem este transporte até mesmo para os mais jovens não é recomendado, para o idoso nem se fala!

A utilização da bicicleta é sonho de muitos idosos hígidos, porem o medo do transito e dos ladrões reduz em muito esta empolgação!

O transporte coletivo não é adaptado as necessidades dos mais velhos, alem de ser muito raro, espera-se até quarenta minutos por um coletivo e quando chega na maioria das vezes vem lotado, o que intimida ao geronte!

Os taxis são caros para uso rotineiro!

Conversando sobre porque o /a Sr./Sra. ainda dirige nesta idade? Diversos me disseram ser muito melhor e mais seguro, até mesmo para se chegar ao local onde é possível caminhar!

Muitos me disseram caminharem nos estacionamentos de supermercados e em seu interior! Outros me informaram que usavam o interior dos shoppings! Alguns, as praças, os parques de seus bairros, em grupos, outros solitários, quase todos se vestem adequadamente, e usam calçados apropriados! Poucos utilizam bengalas e um usa um cajado de peregrino, que me diz servir também de arma de defesa contra intrusos! 

Aqueles que caminham me citaram a segurança como principal fator limitante de sua atividade física, quer seja pela freqüência de meliantes, desocupados, intimidando e muitas vezes atacando-os e também as condições da estrutura das calçadas e mais recentemente, as ruas, para onde muitos migram ao caminharem para evitar os constantes desníveis, ou a inexistência completa de calçadas!!

Quando caminham nas ruas estão sujeitos a atropelamentos, ou lesões devido a proliferação de buracos nas vias publicas!

Enfim quando pedimos a um paciente que faça atividade física e preferencialmente que faça caminhadas diárias, na verdade estamos assumindo muitas vezes a cumplicidade sobre uma anunciada tragédia urbana! Se orientarmos para o uso de bicicleta, solução ambiental perfeita, então é assassinato na certa! 

Onde esta o direito e o respeito aos cidadãos de nossas cidades? Como podemos tornar mais fácil a vida dos moradores, se o simples direito de ir e vir é totalmente comprometido?!    

Mobilidade urbana em Natal é matéria da mais alta ficção cientifica, não existe! A confusão grassa como um legado sem responsáveis, planejamento, sustentabilidade, compromisso ambiental, permeabilidade e capilaridade urbana, são temas tabus e desconhecidos dos envolvidos, não da para fazer, não há dinheiro! Nem muito menos vontade política!

A autoridade que existe, seja nas cores caqui, azul ou AMARELA não é de apoio, nem muito menos educativa, é sempre punitiva e arrecadatória, multas fazem caixa para gerencias amadoras e tratam os condutores de veículos como meliantes! Aliás como a própria Receita Federal, que trata contribuintes como sonegadores, enquanto subleva sonegadores, por processos mal conduzidos, vide a Satiagarra!?!  

Mágicos de plantão de repente tiram um coelho da cartola, fazem uma maquiagem, muros, muretas, obras em sua maioria sem licitação e previsão orçamentária, e eis que surge um novo monstro em nossas ruas  estreitas e mal conservadas, com pontos de ônibus descobertos, sinais desligados, insegurança, gargalos e pontos de estrangulamento sabidos e freqüentes, que persistem anos e anos sem  solução!

Nossa orla, antes lindo cartão postal, lembra a devastação da Normandia pós dia D!

Enfim, amanhã quando for orientar a um paciente a atividades físicas nas ruas o farei e ao final direi, por sua conta e risco!    

Fisiologismo, inércia, cooptação, e a predileção pelo meu em detrimento do nosso é predicado da classe política quase sem exceção, mas a tolerância e a conivência  não devem ser nossa postura, pois a falta da cobrança nos torna cúmplices de más  gestões!  

Compromisso não é dizer, é fazer, e a renúncia muitas vezes é a solução mais digna, do que a teimosa persistência da incompetência! A desgraça faz sentirmos saudades da miséria, cuidado! Aquilo que passou não é menos responsável, por estar sem poder! Importa saber quem vai se comprometer com seu direito? Que venha a COPA!             

João Mariano Sepúlveda - cardiogeriatra 

Tribuna do Norte