Reservatórios do NE registram menor índice em 7 anos; não há motivo para preocupação, diz ONS

Reservatórios do NE registram menor índice em 7 anos; não há motivo para preocupação, diz ONS

Raquel Maldonado
Do UOL Notícias
Em São Paulo

 

Após um inverno mais seco que o normal, os reservatórios de todas as regiões do país, exceto do Sul, estão com os níveis mais baixos do que os registrados em anos anteriores. No Nordeste, a situação é a pior dos últimos sete anos. Já nos sistemas Sudeste/Centro-Oeste e Norte, os reservatórios não ficavam tão baixos desde 2006.

Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), ainda que o cenário seja este, não há motivos para preocupação, uma vez que não há sinais de problemas que comprometam o abastecimento de energia. O órgão defende que, atualmente, o conjunto de reservatórios do país trabalha com um sistema complementar que permite o desvio de água de uma região para outra, caso seja necessário.

De acordo com o ONS, este sistema interligado não existia em 2001, quando o país sofreu com o racionamento de energia elétrica.

O sistema composto pelos reservatórios da região Nordeste estão atualmente com 50,7% de sua capacidade de armazenamento, mas a situação só passaria a ser preocupante se o nível estivesse abaixo dos 19%, diz o órgão. O ONS argumenta ainda que o sistema Nordeste representa apenas cerca de 20% de toda a capacidade de armazenamento do país.

Apesar de o inverno ter sido chuvoso na costa, as precipitações não foram regulares no interior nordestino, o que explica o baixo nível das reservas.

No sistema Sudeste/Centro-Oeste os reservatórios estão com 51,5% de suas capacidades. Para que se cogitasse um possível racionamento este nível deveria ser inferior a 18%. A região representa cerca de 70% de toda a capacidade de armazenamento nacional.

Estas foram as regiões mais castigadas pelo tempo seco durante todo o inverno. Diversos municípios registraram constantemente índices de umidade relativa do ar inferiores a 20% --situação de alerta de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Em Brasília, por exemplo, não chove a exatos 120 dias.

O Norte está com 49,18% de sua capacidade total. Segundo a ONS, apesar de também ter registrado um período de seca, a região sempre possui água excedente e não houve até agora a necessidade de um estudo que indique o nível mínimo para garantir o atendimento do mercado e assegurar a capacidade de recuperação dos reservatórios. O sistema representa cerca de 5% da capacidade de armazenamento total. 

Os reservatórios que compreendem a região Sul são os que registram as melhores condições. Atualmente, o sistema está com 64% de sua capacidade total. A região abrange 5% da capacidade de retenção do país.

Falta de água em áreas pontuais
Apesar de não haver preocupação com relação à falta de energia elétrica, a estiagem deste ano acabou prejudicando o abastecimento de água em algumas áreas pontuais do país.

A região Norte, principalmente o Estado do Amazonas, enfrenta uma das maiores secas dos últimos anos. Por causa da falta de chuvas, os rios Javari, Juruá, Japurá, Acre, Negro, Purus, Iça, Jutaí, Solimões e Madeira estão com níveis abaixo da média.

De acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas), os efeitos da seca já são sentidos pela população local, uma vez que os rios da região têm papel fundamental principalmente para o transporte, abastecimento de alimentos, medicamentos e combustíveis.

“Essa população está tendo que percorrer grandes distâncias para obter água de boa qualidade, já que, em muitos casos, a qualidade da água disponível está comprometida devido à mortandade de peixes. No início de setembro, a Defesa Civil do Amazonas emitiu alerta para 26 municípios do Estado”, diz nota publicada no site da ANA.

A Defesa Civil do Amazonas deve começar até o fim desta semana a ajuda emergencial a 27.947 famílias atingidas pela seca nas calhas do rio Solimões e seu afluente Juruá.

De acordo com Joaquim Gondim, superintendente de usos múltiplos da ANA, diferentemente do sistema de captação e produção de energia, que funcionada de forma integrada, a lógica do sistema de fornecimento de água é independente, o que pode causar falhas pontuais no abastecimento em períodos de estiagem.

“Alguns sistemas de abastecimento municipais não foram projetados para passar por longos períodos de estiagem, e as bombas têm dificuldades operacionais para puxar a água”, explicou Gondim.

Cidades das regiões Sudeste e Centro-Oeste também enfrentam problemas pontuais devido à falta de chuvas. Nos municípios de Nuporanga (373 km de São Paulo), Altinópolis (333 km de SP) e Viradouro (398 km de SP), por exemplo, as prefeituras já começaram a racionar o uso da água.

Após mais de 100 dias sem chuva, cerca de 160 bairros de Goiânia e Aparecida de Goiânia, em Goiás, sofrem com interrupções constantes de água durante o dia –alguns chegam a ficar totalmente sem água.

Na região Nordeste, a situação é semelhante em algumas cidades do interior. Nos grandes centros ainda não houve registro de falta de abastecimento.

Previsão para os próximos meses
Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o nível dos reservatórios deve se recuperar em breve com o início das chuvas. A previsão é a de que nos próximos três meses as chuvas fiquem dentro da média.

“Este final de setembro a situação ainda ficará irregular, mas já no início do mês que vem as chuvas voltarão a ser frequentes”, afirmou Amilton Carvalho, meteorologista do Inmet.