CONTOS DE LIMEIRA
Contos
DESCULPAS
Gostaria de pedir desculpas àqueles que buscam a cada dia mais um conto aqui publicado. Tenho alguns em processo de conclusão para publicar aqui em breve. Grato pela atenção.
Caminhada
Caminho noites
Por estradas e veredas
Seguindo pessoas
Que me levam para onde não quero ir
Nem me dizem para onde vão me levar.
Sei que caminho,
Horas e mais horas
Devagarinho, sem descansar.
Descansar é preciso
Quero parar, avaliar a distância
Avaliar a caminhada,
Se devo continuar por esta...
Quem me leva?
Quero sair,
Quem me leva?
Quero voar, nadar, pular, brincar...
Quem me leva?
Ninguem me quer
Ninguem me ama...
Sou criança birrenta
Querem me deixar na cama.
Quero ser companhia
Quero colo,
Quero dar alegria
Quem me leva?
Para o mato fazer pipi
Nas noites de lua cheia
Onde o galo canta na...
Carro quebrado
Lobisomem, visagem,
Assombração...
Desperta no menino
Que tem medo de escuridão.
A viagem interrompida
Na descida da ladeira
Sem bebida nem comida
De volta da feira.
O medo e a fome
Se juntam pra piorar
A situação agonizante
Que o menino está.
Entre mato e escuridão
Nem a lua...
Banco pra dois
Um para lá...
E um para cá...
Os dois juntos
Vão jantar.
Nas pontas do banco
Eles estão
Entre eles ninguém pode sentar.
Leite, pão e bolacha
É a merenda preferida.
Pirão de água e carne seca
Sempre é bem servida.
Um para lá...
E um para cá...
Entre eles ninguém pode sentar.
Pescaria
Como dói sentir fome
E como brincadeira de criança
Sem rumo, sem hora pra voltar
Com uma vara na mão,
Saem para pescar.
É compromisso firmado
Estou grande
Tenho obrigação.
Assim eu penso
Com uma vara na mão...
Levo peixe para meu irmão
Nas águas rasas do rio
Sem camisa, sentindo frio...
Na sombra...
Não tive aula
Sol quente na moleira
Todo dia vou pra escola
Subindo e descendo ladeira
Se não tem aula, então jogo bola.
Todos juntos,
Pelo corredor vão se encontrando
Se não tem aula pouco importa,
O saber estou buscando.
A professora é aplicada
Sua aula quer dar
Mas seu namorado de folga,
Sempre...
Corte de cabelo
Depois de andar
Léguas e léguas,
Caatinga a dentro,
Pelas veredas e transpondo riacho
Pulando cercas
Ou passando por baixo.
Cruzando velame, jurubebas, mata-pasto...
Cutucando a casa de marimbondo
Vespa sagaz e venenosa
Sem piedade deixa uma ferroada
E atendendo ao conselho
Da velha...
Tamarindeiro
Do alto...
Bem lá do alto.
Os galhos fracos permitem que colha
Mas, bem ligeiro
Do tamarindeiro
A fruta azeda
Que enche a boca d’água,
O porquinho de moeda,
No fim de semana
Depois de vender
Pra Dona Aidê
Fazer geladinho.
Com dificuldade levei pra cidade
Sem ter vergonha
De pedir pra Dona...
Feixe de lenha
Ai que saudade que dá
Daquelas que faz doer...
Mas que também me faz lembrar
Os tempos de criança
Que não posso voltar pra lá
Ficando apenas com a lembrança.
Ao amanhecer,
Ainda com o sereno cobrindo a pastagem
Sem esmorecer,
Mamãe diz: menino deixa de bobagem
Vá no mato, a lenha...